Investigação da PF aponta possível envolvimento de bicheiros com policiais




A exploração de jogos de azar por meio de máquinas caça-níqueis e o jogo do bicho são atividades criminosas que ocorrem há vários anos em Santarém sem que os responsáveis pelo fomento dessas práticas delituosas sofram repressão mais rígida por parte das autoridades policiais. E por que isso não acontece? Talvez pela suposta ligação de alguns policiais civis e militares com esses contraventores. É o que afirmou o juiz federal José Airton de Aguiar Portela em seu despacho autorizando a Polícia Federal a proceder com a busca e a apreensão de equipamentos e produtos de crime nas residências e estabelecimentos comerciais de propriedade dos bicheiros Reginaldo de Paiva Lima, Railson Rabelo Chagas e Celso Augusto Crespo Rattes, presos ontem (25), durante uma operação simultânea realizada pela PF e Polícia Civil. A prisão deles é temporária com prazo de cinco dias. Geraldino Alves de Lima, que também é citado no inquérito policial foi preso em flagrante, porém, depois de pagar fiança de 10 salários mínimos foi colocado em liberdade.

Durante a ação policial, foram apreendidas máquinas caça-níqueis, num total de 100 equipamentos eletrônicos, R$ 170 mil em dinheiro, duas armas de fogo, documentos e computadores. Tudo apreendido nas propriedades dos contraventores.

De acordo com a polícia, há dez meses que essas pessoas estavam sob investigação. Os passos dos bicheiros eram acompanhados de perto pelos investigadores da Polícia Federal, que obteve filmagens e fotos mostrando toda movimentação dos acusados no fomento de suas atividades criminosas. Toda a investigação tem autorização da Justiça.

O processo de número 11471020124013902, que tramita sob sigilo na Justiça Federal de Santarém, investiga possíveis crimes de contrabando, crimes contra a economia popular, corrupção ativa e passiva.

Na decisão do magistrado, ele acentua que a PF identificou cuidadosamente a conduta e os círculos de atuação de cada um dos indivíduos investigados, reunindo fotografias, filmagens, relatórios que mostram intensa movimentação ilícita por parte dos envolvidos.

O que chamou a atenção do juiz federal é o possível envolvimento de policiais civis e militares com os bicheiros. À página 3, do mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça Federal, por exemplo, o magistrado destaca que "Railson Rabelo Chagas teve sua atuação registrada por investigações preliminares, acentuando sua prática ilícita, além de manter contato com delegado da Polícia Civil (o nome do delegado não foi divulgado pela Justiça). Fato que faz surgir a possibilidade de que sobre este exerça influência para que se abstenha de reprimir suas práticas criminosas. A investigação mostra também que Railson mantém ligações com o também investigado Reginaldo”.

Na página seguinte, o outro investigado, Celso Rattes, também teve seus passos monitorados pela PF. A investigação policial mostra que o bicheiro “mantém forte relacionamento com autoridades cuja missão é a de reprimir atividades ilegais. Tanto é que policiais militares são vistos com frequência entrando no estabelecimento Loteria Paratodos, que possivelmente pertence a Celso. Há inclusive elementos que comprovam já ter sido condecorado pela Polícia Militar local”.

O juiz José Airton de Aguiar Portela diz ainda em seu despacho que verificou indícios de autoria e materialidade em relação aos crimes de contrabando, em vista de que as máquinas caça-níqueis têm a maior parte de seus componentes contrabandeados, já que é proibida sua importação, crime de quadrilha ou bando, já que há robustos elementos que revelam a participação de um grande número de pessoas na empreitada criminosa tais como funcionários dos investigados, pequenos comerciantes, servidores públicos, além do relacionamento entre alguns dos investigados. O magistrado afirma ainda que é possível também cogitar a prática de crime contra a economia popular e até mesmo de corrupção ativa e passiva, em razão da possível participação de policiais civis e militares.

Ainda segundo o despacho do juiz federal, ele destaca que os empresários têm forte poder intimidatório sobre seus subordinados e associados na empreitada criminosa, além de possivelmente contarem com o apoio de policiais.

A Polícia Federal continua investigando outras pessoas, inclusive policiais civis e militares.

As pessoas detidas pela Polícia Civil prestaram depoimento e depois assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO). Elas deverão ser chamadas para prestar esclarecimentos à Justiça Federal.

O mandado de busca e apreensão foi expedido pela Justiça Federal no dia 9 de abril.
 
Fonte: Marcos Santos/Quarto Poder

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.