Governo federal e a militarização como instrumento político
Fonte: Conselho Indigenista Missionário – Cimi
O
Conselho Indigenista Missionário chama a atenção da sociedade e
denuncia os mecanismos autoritários de exceção adotados pelo governo
brasileiro. Diante da posição altiva e digna do povo Munduruku, que não
tem se deixado iludir, nem ser corrompido, e que vem manifestando,
repetidas vezes e de maneira unificada, sua posição contrária à
construção do chamado Complexo Hidrelétrico do Tapajós, o governo
federal publicou, no último dia 12 de março, o Decreto nº 7.957/13, que
altera o Decreto nº 5.289, de 29 de novembro de 2004 e legaliza a
intervenção e a repressão militarizada a todo e qualquer ato de
resistência da sociedade civil organizada contra a invasão de seus
territórios por obras de infraestrutura.
O
Decreto 7.957/13, “de caráter preventivo e repressivo”, institui o
“Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a Proteção do Meio
Ambiente”. Dentre as competências deste Gabinete estão as de
“identificar situações e áreas que demandem emprego das Forças Armadas,
em garantia da lei e da ordem, e submetê-las ao Presidente da
República”, e “demandar das Forças Armadas a prestação de apoio
logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução”. De acordo
com o Decreto “No caso de emprego das Forças Armadas para garantia da
lei e da ordem em operações de proteção ambiental, caberá ao Ministério
da Defesa a coordenação, o acompanhamento e a integração das ações a
serem implementadas pelos órgãos e entidades envolvidos”.
Ainda
por meio do referido Decreto, o governo federal cria “a Companhia de
Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública”. Dentre os
objetivos desta companhia, está o de “prestar auxílio à realização de
levantamentos e laudos técnicos sobre impactos ambientais negativos”.
Fica determinado ainda que “A Força Nacional de Segurança Pública poderá
ser empregada em qualquer parte do território nacional, mediante
solicitação expressa do respectivo Governador de Estado, do Distrito
Federal ou de Ministro de Estado”.
Com
base no Decreto 7.957/13, no dia 21 de março de 2013, o Ministro de
Estado de Minas e Energia Edson Lobão encaminhou, ao Ministério da
Justiça, Aviso Ministerial nº 040/13 “solicitando o apoio da Força
Nacional de Segurança Pública ao Ministério de Minas e Energia”. Em
resposta ao pedido, o Ministro de Estado da Justiça José Eduardo Cardoso
publicou a portaria 1.035, de 22 de março de 2013, autorizando o
emprego da Força Nacional de Segurança Pública no estado do Pará, o fim
de “garantir incolumidade das pessoas, do patrimônio e a manutenção da
ordem pública nos locais em que se desenvolvem as obras, demarcações,
serviços e demais atividades atinentes ao Ministério de Minas e
Energia”.
Imediatamente
foi desencadeada a “Operação Tapajós”, formada por agentes das Forças
Armadas, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e da Força
Nacional de Segurança Pública. Por esta operação, o governo federal vem
aterrorizando a vida do povo Munduruku na região de Itaituba e
Jacareacanga, estado do Pará.
O
governo federal não aceita o contraditório e por decreto lança forças
militares contra as comunidades e povos que se opõem aos seus ditames. O
que isso pode ser além de resquício catastrófico do período de exceção
da ditadura militar, que agiu com as mesmas ferramentas em vista do
milagre econômico nunca atingido? Hoje vemos o “nunca antes na história
desse país”. O aprofundamento da experiência democrática é substituído
por inflexões arrogantes, que desrespeitam leis, acordos internacionais e
o direito ao futuro dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
É
inaceitável e ilegítimo que o governo imponha uma proposta de diálogo
com a “ponta da baioneta” no pescoço dos povos indígenas. Não podemos
aceitar um Estado de Exceção – ou a repetição dele.
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