Índios aceitam encontro com governo, mas segue ocupação de Belo Monte
Do Valor Economico
BRASÍLIA - Após quatro dias de ocupação do principal canteiro
de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, as
lideranças do protesto indígena aceitaram a proposta feita pelo governo
federal. Um grupo de índios viajará a Brasília na próxima quarta-feira para se
reunir com representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República e dos
ministérios da Justiça e de Minas e Energia. Os indígenas, no entanto,
permanecerão no interior do canteiro até, pelo menos, o dia do encontro.
A decisão de deixar ou não o local vai depender do
resultado da conversa com os representantes do governo. O acordo foi fechado
ontem à noite, ao fim de uma reunião de mais de cinco horas. A proposta, que já
havia sido apresentada às lideranças em carta, pelo ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, voltou a ser submetida
nesta quinta-feira pelo coordenador-geral de Movimentos do Campo e Territórios
da secretaria, Nilton Tubino.
O transporte dos índios entre Jacareacanga e
Brasília vai ser custeado pelo governo federal. Desde o início da ocupação, os
índios exigiam que um representante do Executivo fosse ao canteiro negociar as
reivindicações. Entre outras medidas, eles querem a suspensão de todos os
empreendimentos hidrelétricos na Amazônia até que o processo de consulta prévia
aos povos tradicionais, previsto na Convenção 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), seja regulamentado. O governo, contudo, argumenta que será
mais fácil negociar em Brasília, após o canteiro ser desocupado, pois na
capital federal há como consultar outros ministros e membros da equipe.
Ao contrário da vez anterior, os índios ontem
aceitaram a proposta com a condição de poderem permanecer no escritório central
do canteiro Sítio Belo Monte até o fim da reunião com o governo federal. Com
isso, a ordem de reintegração de posse concedida pela subseção da Justiça
Federal em Altamira na terça-feira (28) não será cumprida até segunda ordem.
O acordo permite ao Consórcio Construtor Belo Monte
retomar as atividades paralisadas por motivo de segurança, o que já está sendo
providenciado. A previsão do consórcio é que, até o turno da noite, os
trabalhos já tenham sido normalizados. Segundo a assessoria do consórcio, com o
acordo, os índios devolveram todos os veículos e radiocomunicadores da empresa.
Além disso, os manifestantes liberaram as portarias e desobstruíram todas as
rotas de fuga, usadas em caso de emergência.
O acordo entre índios e governo federal foi fechado
horas depois de um índio terena ter sido morto a tiros durante a desocupação de
uma fazenda localizada na cidade de Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul. A
operação foi coordenada pela Polícia Federal e contou com o apoio de policiais
militares sul-mato-grossenses. Um inquérito foi instaurado para apurar se houve
abuso dos policiais. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, prometeu
rigor na apuração.
(Agência Brasil)
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