Empresário santareno é preso pela Polícia Federal.


Uma quadrilha que extorquia recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em seis municípios, foi desarticulada, na manhã de terça-feira (24), na Operação “Lessons”, um trabalho conjunto da Polícia Federal, Controladoria Geral da União (CGU), Ministério Público Federal (MPF) e Receita Federal (RF). Duas empresas de fachada vendiam cursos de línguas estrangeiras, de qualidade questionada pelos órgãos envolvidos nas operações, e com preços superfaturados: o kit com três livros didáticos e três DVDs custava R$ 1,8 mil. O rombo estimado está entre R$ 12 milhões e R$ 17 milhões. No mínimo, 70% desses valores já foram pagos às empresas BR7 Editora e Ensino e IHOL Idiomas. O radialista Nonato Pereira (Raimundo Nonato da Silva Pereira), está foragido e é apontado como um dos líderes do esquema. Na casa dele, foram encontrados R$ 76 mil em dinheiro e uma quantidade de haxixe.

Foram 15 mandados de busca e apreensão, três mandados de prisão preventiva, três mandados de prisão temporária e 8 conduções coercitivas nas cidades de Belém – não há, por enquanto, nenhuma suspeita da atuação da quadrilha na Prefeitura de Belém -,  Marituba, Tomé-Açu, Acará, Inhangapi e Vitória do Xingu. Foram apreendidos documentos, celulares, computadores, dinheiro, drogas e carros de luxo importados. O vereador John Anderson Lima (PHS, ex-PMDB) é um dos envolvidos em articular a fraude com a prefeitura de Marituba, mas ainda está sendo investigada a participação de outros servidores públicos. Os mandados foram expedidos pelo juiz federal Rubens Rollo D’Oliveira (terceira Vara), que também decretou a quebra do sigilo de equipamentos de informática, o sequestro de bens móveis imóveis dos suspeitos.

Estão presos preventivamente (sem prazo determinado para o relaxamento da prisão) o empresário Alberto Pereira de Souza Júnior e o empresário Washington Luiz Dias Lima. Ficarão presas temporariamente, pelo prazo máximo de cinco dias, a advogada Angélica Laucilena Mota Lima, o servidor público Mário Wilson Moraes Júnior e o empresário Heron Melo de Souza.

Foram conduzidos coercitivamente, para prestar depoimento na Polícia Federal, Washington Luiz Maia (contador), Ilmara Azevedo Campos (servidora da Prefeitura de Marituba), Jean Neves Gomes, John Anderson Nascimento Lima (vereador de Marituba), Raimundo Edson Santos (contador).

Presos na Operação “Lessons”, da Polícia Federal
INVESTIGAÇÃO IMPEDIU QUE OUTRAS PREFEITURAS TIVESSEM PREJUÍZO: As investigações começaram a partir de denúncias recebidas pela CGU da irregularidade sendo cometida em Marituba, entre 2014 e 2015. O coordenador do Núcleo de Operações Especiais da CGU, Israel Carvalho, explicou que, de imediato, chamava a atenção que duas empresas tão pequenas e, praticamente, recém-inauguradas e sem quadro de funcionários, fechassem contratos de R$ 2 milhões ou mais com uma prefeitura sem qualquer processo de licitação. Com a prefeitura de Marituba, o contrato, além do kit didático, incluía uma sala de aula móvel e professores para dar aulas de 18 de dezembro de 2014 a 17 de fevereiro de 2015. A sala móvel continua na rodovia BR-316.

A Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Marituba, em nota, informou que não tem contrato de serviço com a Empresa BR Editora, alvo da operação Lessons. A Controladoria do Município emitiu, em abril deste ano, um parecer desfavorável a renovação de contrato com a empresa pois não cabe a inexigibilidade de licitação pois o serviço ofertado pela BR Editora não é exclusivo.

O delegado Jorge Eduardo Ferreira destacou que graças à operação e às investigações, vários contratos foram cancelados antes que causassem mais prejuízo aos cofres públicos sem dar qualquer retorno às crianças, que ficariam sem cursos de qualidade. Após denúncias, o Governo do Estado cancelou um contrato com as empresas do esquema no valor de R$ 198 milhões. As prefeituras de Augusto Correa (R$ 1,8 milhão), Mãe do Rio (R$ 900 mil) e Ponta de Pedras (R$ 1,8 milhão) cancelaram os contratos e todos dispensavam licitação.

RADIALISTA FORAGIDO E É APONTADO COMO CABEÇA DO ESQUEMA: Os cabeças do esquema eram Washington Luiz Dias Lima (Canté), Nonato Pereira e Alberto Pereira de Souza Júnior (que a Justiça Federal considera mentor do esquema), que tiveram mandados de prisão preventiva. A função do radialista, apontam o delegado da PF Alexandre Brabo e o juiz Rubens Rollo, era de conseguir novos contratos para a quadrilha. “Tudo indica ser Nonato Pereira peça essencial para o êxito do recebimento das vantagens indevidas, uma vez que utiliza sua atividade de radialista e o seu programa de rádio para coagir e cobrar prefeituras que firmaram os contratos com a empresa BR7-editora e que, por alguma razão até o momento desconhecida, postergam os pagamentos dos contratos fraudulentos”, afirmou Rollo.

O radialista tinha inserção e popularidade no interior do Estado, mas acredita-se que se valeu da própria função de radialista para coagir ou ameaçar os prefeitos que não quisessem aceitar o esquema, cujos contratos mais básicos estavam no piso de R$ 900 mil, mas giravam em torno de R$ 1,8 milhão. Na rádio, ele costumava fazer cobranças veladas no programa dele. O prefeito de Marituba, Mário Filho, era, costumeiramente, atacado pelo radialista. “Outra coisa que chamou a atenção é que a IHOL, como uma escola de idiomas, tinha uma atividade muito aquém. Em dois anos, conseguiu apenas 20 alunos. Para nós, ela existia, apenas, para dar um ar de legalidade à fraude”, declarou o delegado. A sede da escola ficava na avenida Marquês de Herval, esquina com a avenida Doutor Freitas. Não há mais nada lá. O total de funcionários da empresa chegava a cinco pessoas.

O procurador da República Alan Mansur, do MPF, destacou que alguns dos investigados já haviam sido presos, anteriormente, em 2012, em fraudes contra o Seguro Contra Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT). “São pessoas já acostumadas a fraudar recursos públicos. Desta vez, foram atentados contra recursos da educação e que não foram para melhorar a educação”, criticou.

Os presos serão indiciados, de acordo com o grau de participação, pelos crimes de associação criminosa, frustrar o caráter competitivo do procedimento licitatório, peculato, corrupção passiva e tráfico de influência. Participam da operação 70 policiais Federais, 17 auditores da Controladoria Geral da União e oito auditores da receita federal. O nome da operação, Lessons, é uma alusão ao material fornecido pelas empresas.

WASHINGTON CANTÉ: Esta não é a primeira vez que Washington Luiz Dias Lima (Washington Canté) é preso acusado de prática de crimes. Em abril de 2010, uma equipe de Policiais Civis, ao comando dos Delegados Jamil Farias Casseb e Silvio Birro Duarty Neto, prendeuWashington Luiz Dias Lima, o conhecido ‘Washington Canté’, acusado de vários crimes nas cidades de Santarém e Uruará, dentre eles, o de Estelionato e Formação de Quadrilha ou Bando.

‘Washington Canté‘ foi preso por força de um Mandado de Prisão expedido pelo Juiz de Direito da Comarca de Uruará. Os problemas com a Polícia e Justiça começaram quando‘Washington Canté‘ era proprietário de uma loja de venda, revenda e financiamento de veículos em Santarém, denominada ‘Garantia Veículos‘, e alguns clientes sentindo-se lesados, fizeram diversas denúncias de ‘golpes‘ na Polícia Civil e ao Ministério Público, que culminou com o cumprimento de um Mandado de Busca e Apreensão feita pela Polícia Civil e MP na casa de ‘Washington Canté‘ e, consequentemente, prisão em flagrante de sua esposa por porte ilegal de arma de fogo.

Fonte: RG 15/O Impacto e Portal ORM
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