INDÍGENA MUNDURUKU SERVIU DE INTÉRPRETE A RECENSEADORES DO IBGE EM JACAREACANGA.

O município de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, foi o único do país a contar com um tradutor indígena no treinamento dos recenseadores que vão atuar no trabalho de coleta domiciliar do Censo Demográfico 2022, a partir do dia primeiro de agosto de 2022. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), designou um intérprete indígena para dar suporte na preparação de nove candidatos de origem Munduruku, que vão atuar nas aldeias indígenas do município durante o censo. 

O treinamento dos recenseadores começou em todo o país no último dia 18. São mais de 180 mil pessoas em treinamento. No Pará, são 6.082 treinandos. E, dentro desse universo, Jacareacanga será a única cidade brasileira a contar com um tradutor indígena. Aliás, essa será a primeira vez que o IBGE contou com esse profissional para treinar recenseadores.

Marta Antunes, coordenadora do Grupo de Trabalho de Povos e Comunidades Tradicionais (GT/PCT’s), explica que o IBGE vai monitorar essa experiência para avaliar sua efetividade junto aos candidatos e instrutores. “No processo de chamada para o treinamento, verificamos que alguns dos candidatos indígenas de Jacareacanga não tinham o português como língua do cotidiano, embora manejassem o idioma em nível suficiente para sua aprovação. E foi para garantir a esses candidatos a compreensão plena dos conceitos e procedimentos censitários, que o IBGE contratou o intérprete”, explica. 

Segundo ela, ter recenseadores do povo Munduruku é um ganho para o IBGE e para o Censo, na região.

A iniciativa em solicitar um tradutor indígena foi da servidora Mara Magalhães, coordenadora da Área Jacareacanga. “Percebemos, já no início do treinamento, que, apesar do empenho, a dificuldade deles com a língua poderia ser uma barreira para o aprendizado, especialmente da parte conceitual. Acionamos o GT de PCT’s que, prontamente, viabilizou o tradutor”, relata. 

O interprete é Gerson Ykopi, que atualmente trabalha como agente indígena de saúde. Com ele em sala de aula, os candidatos ficaram mais participativos e compreenderam bem mais fácil o conteúdo.

Gerson Ykopi tem 37 anos e nasceu na aldeia Katõ, na região do rio Kabitutu. Ele saiu da aldeia aos 7 anos para estudar na cidade, conseguindo concluir o Ensino Médio. “Porém, a maior parte do nosso povo não teve tanto contato com a língua falada na cidade. A maioria só fala mesmo a nossa língua”, diz ele. 

“Para nós, ter o recenseador do nosso povo, um parente nosso na aldeia fazendo esse trabalho, é o melhor para o nosso futuro porque tem uma maioria que não tem contato ainda (com a língua portuguesa) e que passa dificuldade”, diz ele. 


De acordo com Rosalete Munduruku, chefe de gabinete da Prefeitura de Jacareacanga, mais de metade da população munduruku se comunica exclusivamente em sua própria língua. “Pelas nossas estimativas, somos cerca de 12 mil pessoas, vivendo em mais de 150 aldeias, em Jacareacanga. Não temos dados tão exatos, mas acreditamos que só uns 30% dominam a língua portuguesa: são as pessoas que saem da aldeia para estudar, fazer faculdade... e, por isso, conseguem se comunicar bem. Já o restante, que fica nas aldeias, costuma falar só na nossa língua. Às vezes, até entendem um pouco, mas não sabem falar em Português”, explica Rosalete.

Jacareacanga possui, de acordo com o último Censo (2010), uma população total de 14.103 habitantes. Com base nos dados do Distrito Sanitário Especial Indígena Rio Tapajós (DSEI Rio Tapajós, que atende os indígenas de Jacareacanga), o IBGE estima que existam 11.057 indígenas em Jacareacanga, distribuídos em três terras indígenas: Sai-Cinza, Munduruku e Kayabi. 

“As terras Munduruku e Sai-Cinza são ocupadas, predominantemente, por indígenas do povo Munduruku. Na Kayabi encontram-se residentes munduruku, apiaká e kawaiwete, de acordo com dados do Instituto Socioambiental”, informa José Costa Jr., que é sociólogo e analista censitário do IBGE no Pará.

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