Jacareacanga: Isso aconteceu em 2004 -

Índios eleitores protestam armados


Insatisfeitos com a derrota de candidato a prefeito do PT, mundurucus queriam até quebrar a prefeitura, no município de Jacareacanga, no sudoeste do Pará

Cerca de 400 índios mundurucus, muitos deles armados, promoveram protestos em ruas de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, tentando invadir a prefeitura para promover um quebra-quebra como forma de repúdio contra o resultado da eleição para prefeito. O candidato dos índios, Raulien Oliveira de Queiroz (PT), não se conforma em ter perdido a eleição para Carlos Augusto Veiga (PSDB) e mobilizou seus simpatizantes para reagir contra supostas irregularidades durante a apuração dos votos. A violência fez o comércio fechar as portas e muitos moradores se trancarem dentro de suas casas.

Pelas ruas, os índios, pintados para a guerra e armados com espingardas, arcos e flechas, agrediram cabos eleitorais de partidos adversários e chegaram a invadir a residência do coordenador da campanha do PSDB no município, Valter Tertuliano, para matá-lo, mas não o encontraram. Tertuliano teve de se esconder na casa de parentes.

Os índios também cercaram a casa do atual prefeito, Eduardo Azevedo (PSC), mas foram contidos por policiais militares e civis que estavam na cidade. "Ainda bem que eles ficaram só na frente da casa e depois foram embora", contou o prefeito a O LIBERAL.

Os ânimos só foram acalmados com a chegada do reforço de 25 policiais militares fortemente armados de Itaituba, comandados pelo comandante da PM no município, o capitão Márcio Rayol. Os bares da cidade foram fechados porque alguns políticos estavam pagando para que bebidas alcoólicas fossem distribuídas aos mundurucus.

O capitão informou a este jornal, por telefone, que dois homens, conhecidos na cidade por Luís Barbudo e Ceci, ligados ao PT, foram presos por porte ilegal de arma. Ambos foram transferidos para a cadeia de Itaituba. O vereador de prenome Roberto, segundo o oficial, também estava insuflando os índios a promover violências na cidade. "Ele pode ser preso se continuar agindo dessa maneira", comentou o militar, acrescentando que a prisão só não havia ocorrido porque Roberto estava sendo protegido pelos mundurucus.

Advertência - No começo da noite, circulou na cidade a informação de que cerca de 100 índios, também armados, estariam viajando de barco para entrar em Jacareacanga durante a madrugada e juntar-se aos 400 mundurucus que lá já se encontram. "Vamos ficar atentos. O nosso dever é zelar pela segurança da população e evitar distúrbios", explicou Márcio Rayol.

O candidato Raulien Oliveira de Queiroz, acusado de insuflar os índios, foi advertido pelo juiz de Itaituba, Francisco Roberto Macedo, de que seria responsabilizado criminalmente se a violência na cidade acabasse com pessoas mortas, feridas ou danos fossem praticados contra o patrimônio público.

A tropa do Exército que esteve no município para garantir a segurança do pleito havia deixado a cidade na segunda-feira, após a apuração dos votos. O promotor de Justiça do município, Adilson Portilho Gomes, disse a O LIBERAL que a chegada do reforço policial de Itaituba serviu para ajudar a restabelecer a ordem na cidade. "Os índios estavam muito agitados e não queriam admitir o resultado das urnas", frisou Gomes.

O delegado-geral adjunto da Polícia Civil, Nilton Ataíde, informou que um delegado e quatro policiais que haviam se deslocado para Jacareacanga durante as eleições permaneciam naquela cidade. Eles relataram que, no final da tarde, os ânimos estavam menos acirrados, após os distúrbios.

Os juízes Francisco Roberto Macedo e Lúcio Guerreiro, que comandaram as eleições em Jacareacanga, tiveram problemas durante a apuração de votos. No final da contagem, na segunda-feira, os índios não aceitavam que urnas com problemas deixassem de ter seus votos computados. Eles chegaram a fazer protestos, mas foram contidos pelo Exército, que evitou a invasão da junta apuradora.

O município de Jacareacanga é 60% delimitado por áreas indígenas. Ele tem 6.430 eleitores. No dia 3 de outubro, o candidato tucano teve 2.092 votos e o petista, 1.764. Foram registradas 1.994 abstenções. Os mundurucus possuem ativa participação social, econômica e política no município. Três dos nove vereadores com assento na Câmara Municipal são índios.

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