Projeto sustentável coloca o Pará na Semana de Moda de Milão.

         Estilista Tony Palha leva nova coleção a um dos cinco maiores eventos de moda do mundo.
 
Sustentabilidade é a palavra do momento, inclusive no mundo da moda. E um projeto paraense que aposta na solução circular ao utilizar peças de vestuário que seriam descartadas vem ganhando destaque internacional. “O Pará Virou Moda”, coordenado pelo estilista Tony Palha e pelo produtor Tiago Gomes, foi apresentado recentemente na cidade de Pizza, na Itália e, agora, será destaque na Milão Fashion Week, um dos quatro maiores eventos do gênero no mundo, ao lado das Semanas de Moda de Paris (França), Nova Iorque (EUA) e Londres (Inglaterra). 
 
O desfile vai apresentar a tendência de moda outono/inverno a partir do próximo dia 25. O projeto ‘O Pará Virou Moda’ abre o primeiro dia da programação, destinado aos convidados internacionais, com 12 looks que seguem a temática solar (é isso mesmo?) e a cultura, fauna e flora amazônicas. 
 
Tony Palha é o único brasileiro na mostra, que terá, ainda, estilistas de Portugal, Estados Unidos, Dubai, França, Croácia, Colômbia, entre outros. “É uma honra, eu me sinto privilegiadíssimo de estar representando nosso estado e país em um evento tão disputado. Não é o dinheiro, é o prestígio do projeto. Eu já tenho um nome, então porque não levar junto o do Pará, da Amazônia”, afirma Tony. 
 
TEMÁTICA 
 
As peças produzidas no ateliê do projeto ‘O Pará Virou Moda’ trazem um forte apelo amazônico nas estamparias de pássaros e outros elementos representativos desse bioma, somado a um toque tropical, colorido, marcado por cores vivas - laranja, verde cítrico e dourado. O desfile dos 36 estilistas internacionais terá uma proposta mais conceitual e liberdade para apresentar peças voltadas para qualquer estação do ano. No caso do Brasil, o próximo verão será a tônica. 
 
Nos dias 26 e 27 serão apresentadas as tendências das grandes marcas da moda mundial como Gianni Versace, Dolce & Gabbana, Krizia, Moschino e Gianfranco Ferré, entre outras. No entanto, as produções mantêm ligação com a ideia do reaproveitamento. “A nossa ideia é mostrar que podemos fazer tudo com esse material, inclusive roupas de noite. Não me refiro só ao que sobram das confecções”, explica Tony.  
 
PEÇAS 
 
Um dos grandes sucessos, entre as peças criadas por Tony Palha, tem espaço garantido no desfile: o vestido de noiva feito de saco de lixo. Mas as peças criadas a partir dos uniformes da Equatorial Energia, distribuidora que atua no estado do Pará, estarão também em vestidos de noite, calças, saias, casacos e bolsas, tudo inspirado no verão amazônico. 
“Você pode ter um vestido maravilhoso e colocar um casaquinho desse, trabalhado, customizado. Eles (organização do evento) abraçaram a nossa causa, para mostrar esse lado da transformação. Eles já têm o luxo e precisam do caráter sustentável também. O mundo precisa”, completa Tony Palha. 
 
Não por acaso, a primeira coleção do projeto “O Pará Virou Moda” foi batizada de Energia. “Sem saber disso, nós lançamos a luminosidade na moda. Essas faixas em limão e laranja cítrico passaram a ser a cor do verão. Então, queira ou não queira, estamos ditando moda. Temos saídas de praia, maiôs high tech e outras composições inspiradas nessa luminosidade. ” 
 
As roupas para o dia-a-dia, como saias, vestidos de noite, longos e curtos também estão na coleção. “Estamos levando sacolas de praia feitas a partir de uniformes, biquínis com alças de tiras reflexivas e outras peças que fazem essa leitura. Começamos o desfile com o uniforme bruto, depois vai aparecendo o short, a saia curta, o vestido, criando uma proporção de luminosidade. No meio do desfile, com o brilho já em destaque, entram as sedas. Nos vestidos, imprimimos a energia e o colorido da fauna e da flora amazônicas”, antecipa Tony. 
 
No dia 27, quando acontece o desfile de encerramento da Milan Fashion Week, a coleção de Tony Palha voltará à passarela novamente. 
 
DILEMA MUNDIAL 
 
Os impactos causados a partir do descarte de tecidos e outros materiais no meio ambiente são um dos maiores desafios que o setor da moda enfrenta atualmente. A indústria fashion é a segunda mais poluente do mundo, perdendo apenas para o petróleo. 
  
Essa preocupação tem obrigado grandes fabricantes e grifes a repensarem esses impactos. Em visita recente à Itália, Tony Palha e Tiago Costa constataram esse movimento e perceberam que os europeus também não sabem o que fazer com todo esse material. 
 
“De repente, tudo vai virar moda. Queremos que outros estilistas abracem isso como uma compensação pelo o que estamos causando ao meio ambiente. Na própria Fábrica Esperança sobra muito resto de malha e, com esse material, estamos fazendo as araras, acessórios, franjas, fuxicos, alças de bolsas. Estamos realmente aproveitando tudo”. 
 
O projeto conta com o patrocínio da Equatorial Energia que, cumprindo seu papel sustentável, também disponibilizou os uniformes que seriam incinerados na Fábrica Esperança para a produção das novas peças.  
 
Para a analista de responsabilidade social da Equatorial Energia, Michelle Miranda, patrocinar uma iniciativa assim é poder contribuir com o desenvolvimento sustentável do nosso Estado, além de ajudar a transformar vidas, unindo talento, moda e sustentabilidade em um único projeto. 
Além disso, a iniciativa tem uma vertente social, já que emprega mão-de-obra formada por egressas do sistema penal e mulheres em situação de vulnerabilidade social na confecção das roupas. 
 
E nesta nova etapa, o estilista conta com a participação de três estudantes de moda para a produção das novas peças. “Queremos mostrar que os jovens estilistas, os novos criadores, precisam ter um olhar carinhoso para isso”.

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